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3 rotundas | 3 roundabouts ; Projeto | project: Paulo Seco ;  colaboração | colaboration: Filipe Lourenço ; Imagem |image: © Impare Arquitectura ; 2012

 

 

As rotundas são provavelmente o mais comentado elemento urbano.

Mesmo as praças e as ruas, quando se trata de comentar uma qualquer intervenção urbanística, não são alvo de argumentos tão fervorosos.

Neste contexto, se um projeto urbano já acarreta por si, grandes responsabilidades, pela importância que tem na vida e no bem-estar das pessoas e na memória dos lugares, um projeto, não para uma rotunda, mas para um conjunto de rotundas, mais responsabilidades acarreta.

As rotundas são elementos urbanos desenhados para responder a uma melhor organização do tráfego automóvel que, na sua maioria – das cerca de 5000 – recebem esculturas ou elementos escultóricos carregados das mais insuspeitas simbologias, de homenagem a pessoas ou a acontecimentos relevantes para os habitantes locais, mas muitas vezes irreconhecíveis para os forasteiros.

Outras vezes, na tentativa de diferenciação, recorrem a arquétipos simples, por vezes banais, muitos vezes ingénuos, que garantem uma leitura, uma identificação fácil e rápida, mas quase sempre pobre ou mesmo vazia em conteúdo.

A propósito da paisagem urbana atual e das estradas-ruas que a compõem, Alvaro Domingues refere:

“Há quem simplesmente passe e há quem queira sair e entrar, estacionar ou atravessar a estrada. Rápida de mais para quem lá vive, lenta e congestionada para quem lá passa. Um desassossego que não se resolve com passadeiras, semáforos, multas, rotundas e outros truques de acalmia de tráfego.”

 

proposta

O conjunto, de três rotundas, é composto pela rotunda do Freixo, a primeira que se aborda, quando se chega à Lousã pela Estrada da Beira e pelas duas rotundas que fazem a ligação entre a Rua de Coimbra e a Variante.

Tratando-se de rotundas que se localizam no principal acesso à vila da Lousã, pretendeu-se que o seu caráter pudesse ser associado à recepção de quem chega, num gesto de acolhimento para quem visita a região, num sinal de boas vindas.

É assim proposta, na plataforma central das rotundas, a construção de muros em xisto, paralelos entre si, com espaçamentos diferentes, com cerca de 1,5m de altura, dando expressão à horizontalidade do conjunto.

Na primeira rotunda os muros terão a cor do xisto e o piso com vegetação (urze de flor branca, com floração em maio) misturada com gravilha de pedra branca, solução que transmite alguma neutralidade (preto e branco).

Os muros estarão orientados no sentido nascente/poente e terão um afastamento mínimo de 5m ao limite exterior da rotunda, distância que permite uma visibilidade perfeita para a circulação de veículos nas rotundas (que têm cerca de 42m de diâmetro).

As duas rotundas de ligação da Rua de Coimbra com a Variante, terão mesma solução de muros de xisto com a mesma orientação norte/sul, funcionando assim como uma espécie de bússola, orientadora.

Para reforçar o significado único da rotunda será desenhado uma anamorfose da palavra LOUSÃ sobre a superfície dos vários muros, nos quais os caracteres, deformadas e esticados, só serão reconhecíveis a partir de uma certa distância e num determinado local. Ou seja, só num exato momento da passagem pela rotunda, a palavra fará sentido.