O Académico F. C. é um clube desportivo da cidade do Porto que, desde 1927, tem a sua sede no antigo Palacete do Lima, um edifício construído em meados do século XIX na Rua de Costa Cabral.
Este edifício de dois pisos mantém o essencial das suas características originais no piso principal, embora precise de profundos trabalhos de manutenção e restauro. No piso térreo onde, entre outros usos, existe o bar do clube há já algumas décadas, era visível o seu estado de degradação mais acentuado, provocado pelo uso intenso, pela falta de manutenção das infraestruturas e ainda pelo acelarado desgaste dos revestimentos entretanto aplicados, que tornou indispensável a remodelação do bar.
Os reduzidos meios financeiros do clube, insuficientes para um trabalho de reabilitação profundo, ditaram uma solução que pretendia ser pouco intrusiva, que não viesse a comprometer posteriores intervenções, mais estruturantes.
Como solução espacial e de organização do programa do bar, mudou-se o balcão e a área de serviços para um local mais reservado e manteve-se a sala principal que, juntamente com uma nova sala (onde se localizavam os serviços), garantiram uma privilegiada relação da área de mesas com o exterior e com a iluminação natural. Do ponto de vista construtivo, a solução limitou-se a propor a aplicação de um novo pavimento e de um sistema de painéis nas paredes que recobririam os vários e dissonantes revestimentos existentes – rebocos de várias texturas e cores, vários tipos de azulejo, lambris de madeira, capeamentos de pedra. Seriam novas camadas de revestimento, que se somariam aos existentes, adiando uma vez mais os necessários trabalhos de reabilitação em profundidade.
Com o decorrer das obras, fomos confrontados com a necessidade de remover uma parte do pavimento que estava desagregado e que não permitia, por isso, o assentamento do novo pavimento. A sua remoção deixou visivel um outro pavimento que se encontrava por baixo, um mosaico hidráulico em razoável estado de conservação, apesar de algumas lacunas pontuais e de duas áreas mais extensas, com cerca de um, dois metros quadrados, onde já não existiam mosaicos.
Procurou-se avaliar, junto de um fabricante deste tipo de mosaico, a possibilidade de produção de algumas peças para a substituição dos mosaicos degradados e para a colmatação das áreas sem mosaico. Verificou-se que a dimensão dos moldes destes mosaicos não era compatível com os existentes, sendo economicamente inviável a execução de novos moldes, para a produção da reduzida quantidade de mosaicos necessária.
A remoção do pavimento cerâmico que foi, há já alguns anos, aplicado sobre o pavimento mais antigo, revelou ainda outros dois revestimentos noutros compartimentos: um ladrilho de barro cozido com cerca de 30x30cm e 4cm de espessura, bastante irregular e desagregado, sem condições de ser mantido e um pavimento em xisto, com placas de dimensões consideráveis (algumas com 1,5m de largura), com a suas superfícies irregulares, assente diretamente sobre terra. Este pavimento será certamente o pavimento original, daquilo que poderá ter sido um espaço de serviço, de apoio a uma sala de refeições que se supõe ter existido neste piso, durante o seu uso enquanto habitação; como este pavimento também não reunia condições para ser mantido, foi removido e guardado para uma eventual posterior aplicação.
Analisadas as várias possibilidades que estas descobertas trouxeram, optou-se pela manutenção e tratamento integral do pavimento existente em mosaico hidráulico e pelo preenchimento das outras áreas, com uma argamassa cimentícia de pigmento amarelo.
As paredes foram parcialmente revestidas com painéis de fibras naturais de madeira, onde foram gravados desenhos representativos das diversas modalidades em que o Académico já foi vencedor a nível nacional. Estes painéis permitiram resolver a iluminação artificial através de uma linha de luz na sua parte superior, que ilumina uniformemente todo o espaço. Nos tectos, manteve-se o da sala principal, em estuque, que se encontrava em aceitável estado de conservação e refizeram-se os restantes, tendo-se deixado visivel numa das salas, o testemunho de um infeliz episódio do edifício – um incêncio que em 1982 deixou marcas na estrutura de madeira do tecto.
Os trabalhos de reabilitação ou remodelação em espaços e construções existentes, têm variantes que um projeto, dito “de raiz” não pode antever e que por isso não as contempla. São, por esse motivo, trabalhos que se tornam mais densos, mais substantivos, que transportam consigo uma história que se revela pelas sucessivas camadas que se vão dando a conhecer; estas camadas, no Palacete do Lima, não são só camadas de matéria, são também um testemunho das sucessivas transformações a que o edifício e o clube foram sujeitos.

Bar Académico Futebol Clube |

Arquitectura | architect: Paulo Seco ; colaboração | colaboration: Filipe Lourenço ; Gestão do projecto/AFC | project management/AFC: Gaspar Freitas ; Construtor | general contractor: Construções Litosfera, Lda ; Imagem | image: © ITS Ivo Tavares Studio